Minha primeira maratona do Oscar



Uma experiência marcante que eu tive com o cinema foi fazer uma maratona de filmes do Oscar. Peguei esse costume nos últimos anos porque é a premiação mais tradicional. Até quem não gosta de cinema a conhece. Na edição de 2014, eu assisti a quase todos os filmes, meio que levado pela maré de comentários nas redes sociais e acho importante compartilhar isso com vocês. Provavelmente, todo cinéfilo já acompanhou e se deslumbrou com aqueles vários títulos disputando, cheios de cartazes, de trailers, críticas e entrevistas nos jornais; Hollywood em festa, artistas distribuindo sorrisos na televisão. É a parte glamourosa que muita gente se encanta, é o espetáculo americano, the show. Essa foi uma das formas d'eu me aproximar um pouco mais do cinema.

Naquele ano, disputaram a categoria de “melhor filme”, todos estreados em 2013, os seguintes concorrentes: Trapaça (Drama/Romance Policial, por David O. Russell), Capitão Phillips (Thriller/Drama, Paul Greengrass), Clube de Compras Dallas (Drama/Ficção Histórica, Jean-Marc Vallée), Gravidade (Fantasia/Ficção Científica, Alfonso Cuarón), Ela (Drama/Romance/Ficção Científica, Spike Jonze), Nebraska (Drama/Aventura, Alexander Payne), Philomena (Drama/Biografia, Stephen Frears), 12 Anos de Escravidão (Drama/Ficção Histórica, Steve McQueen) e O Lobo de Wall Street (Drama/Biografia, Martin Scorsese).

Olhando essa lista agora, percebo filmes que ganharam muita relevância para o contexto cinematográfico mundial. Her é um grande debate sobre amor moderno e sobre as qualidades do jovem diretor Spike Jonze; Clube de Compras Dallas deu “melhor ator” a Matthew McConaughey; O Lobo de Wall Street foi um fôlego considerável até a escalada de melhor ator de Leonardo DiCaprio, além de ser um ótimo exemplar da filmografia de Scorsese; Gravidade foi o início da sequência de três Oscar’s de melhor fotografia para o mexicano Emmanuel Lubezki, consagrando o também mexicano Alfonso Cuarón como “melhor diretor” daquele ano.

O ator Joaquin Phoenix em Ela, 2013, dirigido por Spike Jonze

Disputando melhor atriz, Cate Blanchett trouxe, em Blue Jasmine (2013, Drama/Comédia), a releitura de Woody Allen para o clássico “Um Bonde Chamado Desejo”, peça escrita por Tenessee Williams e estrelada no cinema por ninguém menos que Marlon Brando. Meryl Streep concorrendo, como sempre, à categoria de melhor atriz pelo filme Álbum de Família (2013, Comédia, John Wells). A atriz Amy Adams na sua saga pelo maior reconhecimento individual da academia hollywoodiana, concorrendo por Trapaça, com participação no filme Ela.

Os iniciantes na sétima arte poderão, então, diferenciar filmes feitos a partir de um roteiro original, como é o caso de Ela e Nebraska, ou de um roteiro adaptado de alguma peça ou obra literária, como acontece em 12 Anos de Escravidão e Antes da Meia-Noite (2013, Drama/Romance, Richard Linklater). Os aficionados por histórias infantis poderão desfrutar da competição de animações, como Meu Malvado Favorito 2 (2013, Aventura/Comédia, Pierre Coffin e Chris Renaud), que disputou o Oscar naquele ano. Geralmente, as animações de estúdios maiores como Pixar e Disney são favoritas.

O prêmio de fotografia é uma peculiaridade, pois é uma das primeiras coisas que os amantes do cinema observam, quando estão se aprofundando na sétima arte. Não raro, ao conversarmos com um amigo sobre determinado filme, revela-se uma paixão pela fotografia do filme ou pela paleta de cores apresentada. O longa-metragem premiado como melhor filme estrangeiro, o italiano A Grande Beleza (2013, Drama/Comédia), de Paolo Sorrentino, é um primor nesses dois quesitos, de fotografia e paleta de cores, exibindo uma Roma de um realismo fantástico, aos olhos do protagonista Jep Gambardella (vivido pelo ator Toni Servillo). Os filmes da categoria estrangeira geralmente trazem as propostas mais ousadas do Oscar, em termos de linguagem – mais sofisticada – ou roteiro – com histórias que se apropriam de dramas locais, de reflexões filosóficas, históricas, são filmes que exigem do espectador.

O ator Toni Servillo em A Grande Beleza, 2013, dirigido por Paolo Sorrentino

Tendo assistido à maioria dos concorrentes, já que é muito difícil assistir a todos, é emocionante acompanhar o desenrolar da competição. Comparar as propostas, ter seus favoritos, fazer as apostas é, no mínimo, estimulante. Vejo a experiência como um curso intensivo da arte do cinema ou, partindo para um lado mais humano, uma aventura para apreensão de vários temas. Tenho filmes do coração que conheci nesse movimento, como é o caso de Ela, Nebraska e Philomena.

De certa forma, ver tantos filmes acaba tirando aquela emoção de sentar na frente da grande tela e apreciar com calma, ouvir aquela história e digerir por alguns dias a mensagem. Você não tem tempo para pensar tanto a respeito de cada um, porque entre o anúncio da lista, em janeiro, e a premiação, no final de fevereiro, o prazo fica curto se não houver dedicação. Para uma vida normal, com trabalho e estudo, cada um faz o que pode.

Mas o fato é que, se jogando nessa “brincadeira”, nos aproximamos um pouco mais da sétima arte. Muita gente pode descreditar o Oscar por ser uma competição do cinema americano, que privilegia biografias nacionais, estórias que legitimam o American Way of Life, etc. Se for o caso, podemos correr para competições mais sofisticadas, como o Festival de Cannes ou de Berlim. É uma opção, para aqueles que já consideram Hollywood uma experiência já bitolada. Contudo, sinceramente, olhando para os padrões brasileiros de leitura de livros, frequentação de museus e peças teatrais, eu acredito que acompanhar o Oscar seja algo grandioso para fruição da arte. Pode não ser o ideal, mas não é inócuo ter um pouco dessa luz que o cinema traz sobre as nossas vidas. Estão lá, só em 2014, figuras brilhantes como Woody Allen, Martin Scorsese, Meryl Streep, Leonardo DiCaprio, Paolo Sorrentino, gente que nos coloca em contato com o verdadeiro significado da arte. Como diria Dostoiévski, a beleza salvará o mundo. A boa arte, mesmo que uma pílula, sempre será uma alternativa para aqueles que estão absolutamente mergulhados na vida cotidiana.


A atriz Cate Blanchett em Blue Jasmine, 2013, dirigido por Woody Allen

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